Até um dia!
Como se prepara, não é uma viagem
onde quando a saudade apertar é só voltar, é uma despedida não é um até logo,
não dá para pegar o telefone e ligar quando só o que precisamos ouvir é um “oi
filha”, como alguém se prepara para dar adeus a quem se ama de mais? Eu não sei,
não consegui me preparar, não sei se algum dia vou lembrar do meu pai sem
sentir esse nó na garganta, eu me apego a o que eu acredito eu tenho para mim que a vida é uma estação onde chegamos
ficamos algum tempo, alguns muito, alguns pouco, alguns como o meu pai fica 89
anos, mas todos que aqui chegam um dia partem, eu acredito sim, que “a vida” é
só uma estação um local de observação e aprendizado, quando chegamos aqui já
temos o nosso bilhete marcado com ao dia e a hora da partida, sei que aqui não
é a nossa casa é apenas o lugar onde estamos de passagem, acredito que a morte
não seja o fim, mas o começo de algo que vai além da nossa compreensão,
acredito que a despedida seja triste apenas para quem fica, pois, quem da vida
parte “retorno a casa do pai”, acredito
sim, que todos nós tornaremos a nos reencontrar em um lugar muito melhor, alguns
chamam este lugar de céu, outro de paraíso, eu o chamo de casa, sei que meu pai
retornou a casa do nosso Senhor, que Deus pai o recebeu seu filho de braços
abertos, que o acolheu em seu infinito amor e hoje o pai está lá contando as aventuras que ele
viveu, nesses 89 anos muito bem vividos, a nós nos resta a aceitar a vontade de
Deus, e agradecer o tempo que passamos juntos, e eu sou grata meu Deus por cada
instante que eu estive ao lado do meu pai; quem parte deixa muita saudade é
verdade, tanta saudade que parece que não vamos aguentar, mas também deixa
muitas alegrias, que guardamos para sempre em cada lembrança em cada momento
que recordamos e é desta forma através da alegria, do amor que
compartilhamos do tempo que convivemos juntos, de tudo que ficou em nós , que ele para sempre fará
parte da nossa vida; eu agradeço a Deus por ter me confiado ao seu Euclides por
ter feito ele meu pai, meu guardião, meu protetor aqui na terra, Deus não
poderia ter escolhido um pai melhor, eu aprendi muito com ele, aprendi a
ter coragem, ele me ensinou a ser responsável, me ensinou que palavra dita vale
como palavra escrita para quem tem vergonha na cara, com seu exemplo de homem
corajoso e trabalhador, de pai amigo,
amoroso e protetor me ensinou a ser grande parte do que sou, lembro-me de
menina pequena ser carregada nos ombros do pai, nossa eu adorava, das brincadeiras
de jacaré na lagoa quando dois juncos amarrados viravam uma toca e o jacaré
grandão vinha nós pegar, das paradas nas viagem para fazer um piquenique a
sombra de alguma árvore, lembro quando o pai me ensinou a comer pão com banana, e
para mim se tornou o melhor acompanhamento para o pão, lembro de crescer
orgulhosa “do meu pai” de ser filha do seu Euclides, para mim o homem mais
forte do mundo, respeitado e temido, sim pois ninguém se metia com o seu
Euclides, e quando o pai falava, estava falado, e isso para mim era o máximo, o meu
pai era o máximo...meu herói, ele era real eu não tinha que estar em perigo
para que parecer não precisava gritar por socorro era só dizer pai e ele estava
lá, eu lembro que quando criança nunca tive medo do bicho papão nem de bandido eu sabia que ninguém teria coragem
de enfrentar meu pai, eu cresci sabendo
que se algo de mau me acontecesse, se em algum lugar eu me perdesse ele iria me
encontrar, me ajudar, que eu não precisava ter medo, porque ele sempre estaria
por perto, foi bom crescer assim segura, protegida, tá certo um pouco mimada, quem me
conhece sabe que o pai me mimava mesmo, do pai eu era a boneca, a bonequinha
que adorava deitar atrás do banco do carro pertinho do vidro traseiro, a menina que ficava encantada ouvindo ele contar histórias de quando ele era mais jovem de antes de eu nascer; ele, era meu herói, meu guardião, minha identificação... meu ponto de referência, "eu sou Inoema a filha do Euclides", hoje faz sete dias que eu estou órfão da sua
companhia física, meu coração vai ter que se acostumar com a saudade, com a falta que ele vai fazer na minha vida, com o tempo
vou preencher este vazio com as lembranças, e tudo vai ficar mais fácil, eu sei
, mas por enquanto eu ainda choro a noite, ainda sinto essa solidão que mais
parece um buraco dentro de mim, ainda estou meio entorpecida, meio que não
acreditando na despedida, por isso escrevo, para mim sempre foi uma boa forma de
me escutar de me entender, hoje escrevo
principalmente para homenagear este que foi e vai sempre ser meu amor, hoje faz
sete dias e só hoje consegui escrever, é
muito difícil, mas é preciso me despedir assim do meu jeito, colocando no papel
meus sentimentos e meu respeito por tudo que meu pai foi e continuará sendo na minha vida.
Que a luz do espírito santo o ilumine e lhe mantenha na paz
da companhia do Nosso Senhor, até um dia pai, eu te amo!
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